segunda-feira, novembro 29, 2004

A Falência do Amor e do Prazer - F. Pessoa

Lá vou eu com mais Fernando Pessoa...
Não tenho culpa se esse cara, na maioria das vezes, escreveu exatamente o que eu sinto.

XXI
"- Amo como o amor ama.
Não sei a razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
(...)
Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te diga e não ao meu amor.
(...)
Ah! Não perguntes nada; antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surda,
Te ouvisse todo com o coração.
Se te vejo não sei quem sou: eu amo.
Se me faltas [...]
... Mas tu fazes, amor, por me faltares
Mesmo estando comigo, pois perguntas -
Quando é amar que deves. Se não amas,
Mostra-te indiferente, ou não me queiras,
Mas tu és como nunca ninguém foi,
Pois procuras o amor pra não amar,
E, se me buscas, é como se eu só fosse
Alguém pra te falr de quem tu amas.
(...)
Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não fosse porque te previa,
Porque dormias nela teu futuro.
(...)
E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.
(...)
Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe..."
in Poemas Dramáticos - Primeiro Fausto - Terceiro Tema
Obra Poética - Fernando Pessoa
E acho que nem preciso indicar quem é que deveria ler esse poema...
Acho que vou mandar para ele, só não sei se ele terá a sensibilidade para entender toda a riqueza do texto, e do meu sentimento.
Enquanto isso, sonhos...
E lágrimas.